domingo, 4 de julio de 2010

03. Espiando pela janela

-Meu Amor, você vai ficar bem mesmo? - Dona Lis perguntou quando terminou de por sua jaqueta de cor bege e retocar o batom no espelho da entrada. Ela não aparentava ter trinta e cinco anos. Não quando sorria e usava uma das minhas calças jeans e uma camiseta semitransparente de alças rosa bebê - A mamãe não vai demorar pra voltar, mas qualquer coisa chama seu primo, ou o Caio, ou uma das suas amigas... fico preocupada em te deixar sozinha em casa!
-Mãe, eu já sou grandinha. E não é a primeira vez que a senhora sai de festa e me deixa aqui. Me liga ou envia uma mensagem se vai demorar.

-Oh, meu Bebê! - parece que nem quando eu cumprisse quarenta ela deixaria de me chamar assim, disfarecei um suspiro de exasperação com um meio sorriso - Não tinha que ser ao contrário? - ela perguntou acariciando meu rosto e enganchando a bolsa no ombro - Mas eu me preocupo por você... - sua expressão se tornou séria e em seu rosto fui capaz de ver refletida sua verdadeira por uma rara vez - Você já não anda com as meninas... - fiz uma careta e ela não me deixou protestar - Sim, eu entendo. Mas é que desde então tenho te visto mais retraída que antes. Meu amor, não quero te ver daquela maneira outra vez...

Ela se referia à um período que eu preferia esquecer. Que latejava em minha memória, e que havia sido muito mais duro do que eu deixava transparecer. Hoje lembro que nesse dia, vendo-a tentar uma e outra vez seguir apenas seu coração a achava realmente imadura pra ser uma adulta quando a via atuar por impulso já que eu acreditava que a solução certa seria definitivamente fugir da dor.

Que tonta! Agora sei que a dor pode ser um bom sinal. Afinal de contas sempre está emparejada com o um sentimento que tememos e que mais ansiamos. O amor.
Nunca pensei que a vida tivesse reservado para alguém tão pacata como eu algo como o que estava por vir. Nem que eu vivesse uma novela mexicana ruim!

-Não, mãe. Estarei muito bem. Tenho um plano completo pra essa noite. Um super banho, um bom filme na tv a cabo e acho que tem sorvete no congelador. Pode ir tranquila, dona namoradeira. Se comporta...

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa mais a buzina do carro do Estêvão soou na entrada, como se confirmasse o pedido.

-Toma cuidado! Não abra a porta pra ninguém e coloca o alarme.
-Sinceramente... parece que eu tenho cinco anos... - me queixei sozinha enquanto via minha mãe que parecia uma adolescente subindo no carro do seu namorado. Pelo menos já iam para quase sete meses juntos... dessa vez talvez durasse. O viúvo de cachos negros e jeito simples e sincero me caía muito bem.

Me alegrava tanto pensar que em pouco tempo me mudaria para perto do campus. Desfrutava estar sozinha, pra mim não queria dizer solidão. Queria dizer liberdade... e certa segurança.

Fui diretamente ao meu quarto, me desfiz daquela roupa que cheirava a suor e bolinhos de canela e abri a torneira deixando que a água quente enchesse a banheira e o vapor embaçasse o espelho. A essência de pêssego inundou o lugar.

Decidi que um pouco de indie me faria bem.
Como eu me movia a base de som e era uma criatura barulhenta por natureza, caminhei até o estéreo desabrochando a camisa do uniforme expondo minha roupa interior favorita e um pouco atrevida rosa chiclete. O fato de que eu fosse virgem e solteirona terminal não me limitava na hora de escolher lingerie, e eu gostava de me sentir femenina. Me dava um pouco de confiança.
Antes de me meter no banheiro caminhei até a janela e vi que ao outro lado tudo permanecia na penumbra. A luz do meu quarto atravessava a cortina lilás com pedras bordadas (pelos menos uma coisa que não me dava tão mal) e banhava a parede branca e o marco de madeira escura de uma das janelas da casa vizinha suavemente. Uma das duas dezenas de janelas. Suspirei.
Nossa casa era composta por uma sala - sala de jantar, um pequeno quintal, uma cozinha modesta e no andar de cima dois quartos que se uniam por um banheiro em comum. A casa ao lado deveria ter pelo menos uns quatro banheiros... levava fechada muito antes que nos mudássemos para esse bairro mas seu aspecto externo sempre foi impecável, teria que me reacostumar com ter vizinhos. Reacostumar-me com baixar as venezianas, diminuir o volume do som. Tinha que lembrar de não cantar a gritos nem imitar o som dos instrumentos com a voz. Augustana não precisava da desafinada Melissa Celinni como back vocal.

Espiei um pouco mais e vi que a única luz acesa era uma no andar de baixo, uma das janelas de esquina que dava vista à um precioso rosal vermelho. Outra olhada em direção ao caminho que unia o pátio traseiro ao dianteiro. Nada.
O único decifrável ali era que talvez a luz do meu quarto refletisse em alguma superfície no quarto que tinha diante. Com certeza em uma casa tão espaçosa, as pessoas optariam por ocupar a ala que dava vistas ao mar que à que dava ao meu muro. Aquele quarto provavelmente estaria vazio, já que a pequena mansão poderia possivelmente ter outros seis em sua extensão.

Envergolhada por minha bisbilhotice e um pouquinho decepcionada - sem querer admitir o motivo: Uma letra "G" que piscava em neón na minha mente - dei meia volta, joguei a camisa no cesto de roupa suja que cada vez estava maior e soltei o rabo de cavalo que tinha preso meu cabelo. Era quase cor caramelo me chegava até a cintura praticamente, me senti um pouco orgulhosa. A roupa íntima foi parar no cesto e eu dentro da banheira que espumava e cheirava maravilhosamente bem.




Joana se aproximou à mesa para retirar os pratos e servir a sobremesa.

-Desculpe seu... - ela segurou uma das mechas negras do cabelo atrás da orelha e as pintinhas marrons do seu rosto começaram a contrastar com um leve rubor ao me encarar.

Pobre garota, minha mãe fazia da sua vida um inferno. Não sei porque ela não dava o fora... suponho que mais pessoas do que eu imaginava não podem se dar ao luxo de simplesmente deixar as coisas pra trás quando são um fardo, elas simplesmente tem que suportá-las. Esperava que sendo amável com ela adoçaria um pouco mais a sua vida.
-Gabriel. Ligaram pra o senh... você. Uma Alícia, a outra era Carolina e depois uma Emília. Essa última ligou duas vezes.

-Oh. Tudo bem. Obrigado, Joan! - não pude evitar dar uma piscadinha pra ela, era irresistível ver como ela reagia. Ficava mais patosa que o normal.
Segui me divertindo e acrescentei em voz mais baixa quando ela estava retirando meu prato:
-Vê se acostuma em me tratar de igual pra igual. Por favor, Joana. - rocei seu cotovelo com delicadeza quando ela retirava os pratos, ela quase comete um desastre e provavelmente deveria me sentir culpado se minha mãe a demitisse por isso.
Denise fez caso omisso do meu pequeno arrebato e da ingenuidade da moça e foi direta ao ponto.
-São tantas que ela até falou em ordem alfabética, Gabe. - comentou dando um gole à sua taça de vinho quando Joana deixou a sala depois de servir a sobremesa.

-Ah, sim? Depois penso no que fazer a respeito. - quando estiver com paciência, acrescentei pra mim mesmo. Eu sabia ser direto também, afinal de contas tinha de quem puxar esse rasgo - Eu não sou o único que tem uma coleção, verdade?

-Não sei ao que você se refere. - que ótima atriz. Me tirava do sério tanta frialdade. Era impossível que ela estivesse sendo verdadeira. Decidi ir ao ponto também.

-Ele não veio outra vez. Onde meu pai está?

-No escritório. - ela hesitou um pouco antes de dar uma colherada no manjar. Um pouco mais calma acrescentou:

-Ele tem uma reunião amanhã cedo e terá que ficar até tarde trabalhando nela. Decidiu dormir num hotel lá perto, e assim não ficará tão cansado pela viagem. Falou que vai ficar acordado até bem tarde. Depois da reunião, vem pra casa.

-Ha! - cansado e acordado são duas coisas que com certeza ele ficaria - Sério?! E você engoliu isso?? - empurrei o prato de manjar branco, sentia vontade de vomitar. Estava tão cheio de interpretar essa obra!

-Gabriel, você me ofende.
-É ele quem te ofende! Meu Deus! Por que a senhora deixa isso acontecer? O que te prende à ele? Ele nunca está aqui!

-Você tem que apoiar seu pai.
-Eu apoio! Ser um adereço em cada reunião e jantar não é suficiente? Suportar essas patricinhas e oferecer diversão à elas não conta? Deixar minha guitarra pra estudar o mercado financeiro não conta? Deixar meus amigos aqui antes e os em Milão agora não significa nada? Não posso decidir nada sem esperar que ele me reprima!
-Você poderia se esforçar em ter uma perspectiva diferente e apenas disfrutar disso. Olhe ao seu redor, onde você está. É beneficioso para todos nós. - ela abarcou com um gesto a sala de jantar. Os quadros famosos, os móveis caros, a mesa repleta. Pela janela, através do jardim se via seu mercedes cor rubi estacionado e meu mustang ao lado. Como se aquilo me importasse.

-Não. Esse não é o ponto. Ser um objeto não o é.
-Você vai retornar essas chamadas, vai visitá-las, vai fazer o que for necessário. São filhas de sócios importantes. - antes que eu protestasse ela levantou a voz em um tom cortante, que acompanhava seu olhar desafiante - Desde quando é um problema pra você sair com alguma garota descebrada e bonita sem sentir nada por ela?

Bufei e desviei o rosto, decepcionado mais uma vez por como ela reagia. Ela voltou ao habitual melodramático:
-O que tem de errado em você, Gabriel? Quer me arruinar? Nos arruinar? Eu? Que faço tudo por você?!

Nunca senti meu pai como um verdadeiro pai. Ele nunca foi do tipo que se sentasse para conversar comigo em uma tarde e perguntar como iam as coisas comigo, tampouco me apoiava quando tomava minhas próprias decisões.

-Sou eu quem tomo as decisões, jovem! Você as acata!

Ele disse naquela noite em que vi minha primeira guitarra, uma Fender Jaguar, arder na chaminé do escritório quando disse que não pensava em cursar Administração. Minha mãe simplesmente colocou a mão sobre o ombro do Arthur e guardou silêncio. Me deixava doente.

Como se eu tivesse pedido para nascer! Como se eu tivesse a culpa por ela deixar a carreira de modelo! Como se eu apenas fosse um fardo, alguém que tinha que pagar uma dívida sem ter pedido um empréstimo!

Mas... afinal de contas... só de imaginar a infelicidade da minha mãe... de pensar na satisfação que o Arthur sentiria quando eu chutasse o balde... Ele iria se vangloriar! E finalmente... eu tinha um plano em ação.
Voltei ao meu papel, o qual eu interpretaria o tempo que fosse necessário para alcançar o meu próprio objetivo, não o dele.
-Eu não acho que isso é o que uma boa mãe diria - ela levantou a sombrancelha direita enquanto a empregada lhe servia mais vinho -, não que a senhora não seja uma. Às vezes só parece que a senhora tem menos escrúpulos que eu e é muito mais machista, ou liberal ao extremo se quer olhar desse lado...

Ela sorriu.
-E eu também gostaria de saber o que tem de errado comigo. Acho que é esse lugar. - Se não fosse por uma possível excessão, uma excessão de corpo escultural, cabelo cor caramelo e fragrância de pêssego. E de um olhar que me desconcertava. Seria todo um desafio e isso servia pra me animar.
Me levantei e caminhei até o lado da minha mãe, uma fugaz estrela que brilhou tão forte quanto rápido naquele pequeno mundo, que ao menos lhe serviu pra caçar um corrupto empresário num jantar da revista de moda da qual ela era a capa.
Dei um beijo na sua bochecha direita ao lhe desejar uma boa noite.

-Ah, sim! Seu pai também prometeu passar o fim de semana aqui.
-Ainda bem que vou passar o fim de semana fora.

-Vai? - asenti com um gesto em resposta, ela deu de ombros - Bom... Iremos à um balneário então. Dá no mesmo. Tenho que pensar em uma resposta rápida para descartar o convite de almoçar com os pais dessa garota ruiva que mora aqui perto. Fiquei de dar uma resposta. Não que não me importe fazer vida social, mas aquela mulher é insuportável! Usa tanta maquiagem que não dá pra ver suas linhas de expressão! E o pai, o ruivo? Calvin, eu acho. Olhava mais para o meu decote que para meu rosto quando vieram dar as boas vindas!
Segurei uma gargalhada. Pelo menos minha mãe tinha uma ótima memória e compartíamos algumas opiniões em comum.

-Boa noite, mãe.
-Boa noite, minha Vida. - que golpe baixo.

jueves, 13 de mayo de 2010

02. Convites


O tom que ele usou me desconcertou, porque para mim não existia nada pior do que a sensação de ser observada, notada, estudada. Me tornava mais desastrada que o normal - e o meu normal era bem elevado -, me preocupava se tinha algo errado em minha cara - ou se tinha escolhido a roupa errada, estava com o nariz sujo ou algo entre os dentes (quem já usou ou usa esse aparelho horrível de metal nos dentes como eu sabe o quanto essa sensação de uma limpeza incompleta incomoda, e que comer em público é um desafio)- e se o olhar insistia eu ia ficando vermelha aos poucos até o ponto de buscar qualquer buraco onde me meter. Mas tinha que seguir servindo, sorrindo, cobrando e limpando.
Até que essa sensação mudou de emissor e se tornou cem vezes mais forte quando dei a volta e estampei meus olhos naquela imensidão verde. Ele ainda estava de costas para mim mas tinha girado um pouco o rosto e me encarava sobre seu ombro esquerdo. Era a primeira vez que aquilo passava comigo. Me sentia totalmente incapaz de desviar meu rosto do seu ainda que soubesse que já havia sido descoberta. A força era uma espécie de atração magnética ou gravitatória porque ainda que eu girasse por todo o recinto meus olhos voltariam à ele. Ele levantou a sombrancelha direita e sorrindo, fez um gesto pedindo que eu me aproximasse.
Talvez minha cabeça fosse explodir ou algo pior passasse já que a cada passo que eu dava em direção àquela mesa meu estômago gelava mais, só esperava que meu rosto não seguisse vermelho quando chegasse ali.
-Boa noite. Já decidiram o que vão pedir? - pelo menos minha voz sonou cordial e tranquila, o que me aliviou muito.
-Eu já tinha decidido mas você demorou tanto que além de mudar de idéia dez vezes acabei perdendo a fome, Melissa.
-Peço desculpas, Patrícia.- "Mas, já que esse é o caso, pelo menos dessa vez você não vai precisar sair correndo da mesa pra vomitar até os cereais que tomou pela manhã por medo a engordar duzentos gramos." - A outra garçonete vai chegar um pouco atrasada.
-Não se preocupa Mel. - essa era Cristina. Mas não se engane com ela, nunca te defenderia. A não ser que isso beneficiasse a ela mesma. Nesse caso, ser simpática comigo seria ganhar pontos com Caio que me vigiava desde a barra. - Dá pra ver que tá um pouco cheio mesmo - estendeu a mão e tocou meu cotovelo falando em voz um tom mais baixa - Pra não dizer "belamente cheio", eu vi o de agora pouco ali atrás. - e piscou discretamente me fazendo virar um tomate, "obrigado". - Quero outra coca light.
-Eu quero uma zero, com uma fatia de limão e três cubos de gelo. Pra acompanhar... não. Apenas a coca-cola. A cozinha da Dona Lis é uma armadilha mortal - disse Patrícia e logo comentou com o rapaz sentado ao seu lado - e esses waffles com chantilly e morangos uma isca malditamente perfeita.
-Obrigado pelo aviso. Realmente, tudo aqui parece extremamente tentador... - e levantou os olhos do pequeno cardápio plastificado até meu rosto, que depois dele completar a frase alcançou o nível máximo de vermelhidão nas bochechas - mas vou correr o risco. Para acompanhar um café colombiano, por favor, Melissa.
-Tudo bem. Agora mesmo trago o pedido de vocês.

Carla, a outra garçonete, chegou com quarenta e cinco minutos de atraso e Caio havia acabado de cortar a estúpida fatia de limão para a coca-cola da Patrícia quando escutei ela se desculpar pela terceira vez com minha mãe atrás da porta. Sua filha tinha apenas um ano e três meses e seu velho Renault vermelho a tinha abandonado sem bateria apenas duas quadras antes de chegar à casa da sua mãe e deixar a pequena Laura ali até que seu turno acabasse. Carla tinha o cabelo e olhos negros e seu rosto era cheio de pintas marrons, como uma banana, um rasgo que sua pequena tinha herdado. Apesar de ser apenas dois anos mais velha que eu já era mãe solteira, sua vida tinha sido muito mais dura que a minha e isso me fazia lembrar estar agradecida pelo sacrifício que as mães sempre fazem pelo nosso bem. Esperava ser forte o suficiente para um dia poder retribuir isso à minha.
-Tudo pronto.- respondeu Caio quando terminou de colocar o último morango no prato.
Nossa amizade também tinha sido alvo da Patrícia, mas ele me conhecia o suficiente pra dizer que ela estava enganada e que eu nunca diria que ele era um chato insistente que sempre estava batendo na minha porta. Caio respondeu que ele apenas era um tipo divertido e perseverante que não esperava ser convidado para entrar e que estava satisfeito com apenas ver que eu estava bem e sorria. E ainda faria o favor de esquecer que tinha tido aquela conversa com ela. Eu não gostava de escutar atrás das portas mas esse dia foi invitável e eu pedi desculpas pra ele mais tarde.
Voltei para servir a mesa e ao me retirar, de alguma maneira meu caderninho de anotar os pedidos caiu do bolso de atrás. Quando escutei o som dei meia volta e me abaixei para buscá-lo, outra mão acompanhou meu movimento e os dois tocamos juntos o pequeno bloc. Era ele.
-Aqui. - ele o estendeu em minha direção, apoiando um joelho no chão e com a outra perna dobrada com o braço esquerdo tocando o olho joelho. Não era apenas a postura ou o quanto ele era bonito, ele realmente parecia um príncipe a ponto de se declarar... E eu parecia uma tonta! Infantil! Aquela não era hora nem lugar pra pensar coisas assim.
-Qual é a graça? - perguntou quando eu mordia o lábio inferior, contendo um sorriso.
-Nenhuma. - segurei o caderno e ele estendeu uma mão pra me ajudar a levantar. Pelo menos "parecia" que eu ia me acostumando com a bagunça que sua cercania provocava no meu corpo e pensamentos. Apenas parecia.
-Por favor? - pediu enquanto nos levantávamos e como eu suspeitava, não poderia dizer não à uma petição sua. Não com aquela voz e não para aquele rosto.
-Apenas que eu sou uma boba com muita imaginação. Só isso.
-Ah. Bom saber que não sou o único. - ele sorriu e senti como uma onda batia em mim: desejei tocar seu rosto e comprovar se era real ou apenas um devaneio, acariciar seu cabelo e comprovar se era tão suave quanto parecia e poder me aproximar o suficiente e sentir mais uma vez a intensidade do seu perfume amadeirado... ele bateu a calça jens escuro que levava tirando o pó que a manchava na altura dos joelhos e voltou à mesa desde onde Patrícia nos observava em silêncio mas não por isso menos inquisitiva.
Eu ainda estava de pé ao lado da mesa, segurando a bandeja e admirando aquela mata de pelo castanho cobre e escutando a Patrícia e Cristina conversarem algo sobre música e instrumentos quando um abraço me envolveu por atrás.
-Imagine só: você, eu, as estrelas... as árvores, o som do vento entre as folhas, a luz da lua... os mosquitos, o barulho incessante dos grilos e o canto dos sapos... sem banheiro, sem ducha, sem eletricidade... Vou raptar você.
-Caio! - aquele abraço me fez sentir extremamente envergonhada, ainda que fosse seu jeito de ser normal. O afastei e simulei golpeár-lo com a bandeja na cabeça. - Não faz isso de novo!
-Te abraçar, te assustar ou te raptar? - ele não me deixou responder - Não importa. Vem comigo!
-Onde? - olhei sobre seus ombros e vi que Carla já estava cuidando de tudo por alí.
-O semestre acabou e a galera se juntou pra ir acampar. Alguns deles realmente gostam de plantas, especialmente uma espécie, com a qual eles fazem algo que tem vulgarmente o nome de um crustáceo. E depois queimam ele, fazendo muita fumaça. É um tipo de contradição, não acha? Mas esse não é o caso. E eu não gosto disso. Mas eu gosto de você e gostaria que você fosse comigo. E antes que você diga que não, se você diz que sim seu primo não vai poder se recusar - coisa que eu duvido, já que loiras não vão faltar por ali, e esse é o seu gênero em particular - e ter seu primo longe da sua caverna secreta todo um fim de semana é uma conquista. Ainda que por ali pelo bosque pode ter alguma caverna.
-Tá. Não entendi. Mas se você e o Pedro vão estar ali e é natureza, algo saudável eu acho depois de ouvir o que você disse, quero ir. Vai ter mais alguém que eu já conheça?
-Eu também! E você já me conhece! - se ofereceu Cristina que havia escutado toda a conversa - Seria algo assim como uma espécie de despedida, não? Segunda-feira a Patri e eu pegamos o avião para Paris e ficaremos por ali pelo menos quatro anos... Por favor?
-Claro que sim, Cris! O convite está estendido. Onde eu iria sem minha musa de ébano? Você está convidada. E você, Patrícia. E você... quem é você? - Perguntou Caio.
-Gabriel. Obrigado mas, a verdade é que eu acabo de chegar de mudança e ainda não me instalei direito e...
-Você também, Gabe! - Insistiu Patrícia - Fala sério. Tipo, você também tem jardineiro, cozinheiro, mordomo e pelo menos outras três empregadas como mínimo. Ainda que sua casa ocupe quase toda a quadra, fora o pequeno espaço da casa da Mel, não é que você necessariamente faça falta na hora de colocar os móveis ou por ordem na casa...
-Na minha casa também tem tudo isso! - respondeu Caio - Sou eu quem exerço quase todas essas funções! Mas deixa isso pra lá. Eu cuido de você também, cara. Minha salsicha na brasa é uma delícia.
-Certo. Mas não quero nenhuma salsicha.

Na mesa três deixaram um bilhete de vinte e um número de telefone anotado em um guardanapo. Agradeci a gorjeta e dissimulei não ter dado uma olhada e ter pensado três vezes anter de amassar o papel e jogar ele fora. Faltando coisa de quinze minutos para fechar, eles foram embora - Gabriel se despediu com um simples aceno enquanto abria a porta para que Patrícia saísse, algo que fingi não me deixar desilusionada -, Cristina veio dar um tchau quando eu colocava as últimas taças no lava-louças.
-Já vamos, Mel. Nos vemos sexta pela manhã... Vem aqui, me dá um abraço. - E Caio estava ao lado do seu Land Cruiser cinza conversando com Gabriel, se podia ver através da vitrine que minha mãe limpava desde dentro.
-Oh. Até, Cris.
Ela acompanhou minha vista com um movimento de cabeça e sorriu dissimuladamente antes de dizer:
-Ele perguntou por você, discretamente, mas perguntou. E sobre quem era o Caio. Eu não sou quem pra definir os limites da amizade de vocês e saí pela tangente mas a Patri disse que ele era "algo assim como um amigo mais que amigo sem deixar de ser amigo..." aos teus olhos, mas não aos dele. Então o Gabriel não disse mais nada e a Patrícia está contando os minutos até sexta pela noite. Vai ser esse fim de semana, Mel... - Se afastou e seguiu - Eu vou ficar com o Caio, porque é o que eu quero. Quando você souber o que quer, Mel, já podem ter levado isso do seu lado. Tem cuidado, fofa. Tchau!
Se havia algo que realmente divertia a Patrícia era se meter em qualquer classe de relação que eu tivesse apenas para arruinár-la. Quanto mais me significasse mais interesse ela sentiria por isso. Ainda não descobri o motivo por mais que tivesse usado isso algumas vezes pra me livrar de algum ou outro chato. Mas dessa vez não queria atrair sua atenção.

Naquela época não admitiria isso mas desde o primeiro dia me senti gravitatóriamente atraída por esse rapaz que eu apenas conhecia.

lunes, 4 de enero de 2010

01. Introduções


O piloto automático estava ativado em meu cérebro. Assim, enquanto meu corpo cumpria com a labor de garçonete à tempo parcial, minha mente vagava para qualquer lugar longe daquela cafetería. Pensava no que minha tia poderia estar fazendo agora mesmo.
Aos dezeseis anos meu primo nasceu e seis anos depois, minha avó que era quem maioralmente cuidava dele foi velar por nós desde o céu, com Jesus e seus anjos, como minha mãe disse aquela tarde chuvosa na sala estilo colonial da Senhora Elisana e todas aquelas pessoas vestidas de negro conversavam em voz baixa. Meu avô desde muito esperava por ela e agora voltariam a estar juntos. Então, aos seus vinte e dois anos, apenas três meses depois do enterro, a tia Ana apareceu na porta da nossa casa, um subúrbio tranquilo em Bella Donna para onde meu pai acabava de ser transferido, com Pedro ao seu lado e uma mochila nas costas. Um táxi esperava do lado de fora.
Nos sentamos diante da televisão onde o Coyote insistia em capturar o Bip Bip mas Pedro, quem é dois anos mais velho que eu, não sorria quando as dinamites explodiam no momento errado ou o animal era atropelado ou caía desde um abismo. Ele só voltaria a sorrir de verdade muito tempo depois.
-Lis, - disse depositando a xícara vazia sobre a mesa da cozinha - sei que você vai cuidar dele como ninguém mais o faria. Mas eu quero muito mais do que essa cidade pode me oferecer e o tempo não espera à ninguém.
-Sempre amei o Pedro como se fosse meu próprio filho e o Arthur também adora esse menino tão esperto - minha mãe respondeu desde seu lugar apoiado no balcão de madeira, com aquela barriga que a cada dia se fazia maior, em quatro meses eu ganharia uma irmã -. Mas, o que você pensa fazer? Quanto tempo você vai ficar fora?
Com voz dura e decidida minha tia respondeu:
-Nunca pensei em ir atrás daquele bastardo e não é agora que o penso fazer. Forjarei minha própria sorte. Metade da minha herança fica em uma conta poupança em nome do Pedro, a outra vem comigo. - apagou o cigarro e enganchou a bolsa Versace no ombro - Você vai ouvir de mim, pequena Lissy. Todos irão.

-Ainda não é Natal, mas como eu fui tão boa menina, Papai Noel já trouxe meu presente. Em um Mustang azul hoje de manhã. - Patrícia conversava eufórica com Cristina. Parecia que quanto mais eufórica, mais nasal e irritante sua voz soava.
Sua casa era a segunda maior de toda a quadra, e seu o pai o preparador técnico do time de futebol do estado. Um time de futebol onde até mesmo os reservas conheciam com intimidade sua filhinha tão mimada. Tínhamos mais ou menos a mesma altura, sobre um metro setenta ou algo assim. Seu cabelo batia na cintura, liso como a seda e cor de fogo, cheia de sardas e de olhos castanhos quase esverdeados. Ela tinha um bom corpo e era consciente disso. Cristina, de pele cor azeitona e um físico muito mais impressionante estava sentada na sua frente bebendo uma coca light que a pouco eu havia entregue em sua mesa.
-E o que ele te trouxe? - perguntou sem se esforçar por demonstrar entusiasmo. Ela só tinha olhos para uma pessoa ali.
Voltei para meu lugar atrás da barra e enquanto colocava pacotinhos de açúcar sobre os pires e enxaguava alguns copos na pequena máquina ao meu lado, Caio seguia com sua narração.
-Então, quando eles chegam no campo de futebol, em meio da noite, e encontram todas aquelas pessoas deitadas de costas no chão com os olhos abertos pro céu escuro... Umas do lado das outras, como sardinhas em lata. Vestidas com roupas manchadas de sangue cheias de machucados, havia centenas delas. O som country da rádio ecoa pelo estádio, todas aquelas pessoas imóveis, com os olhos e boca abertos, sem se mover... e então um dos caras se abaixa e aproxima o ouvido em cima de uma delas pra ver de onde vem aquele som e...

Aquele garoto alto de cabelos castanho claro e olhos de um verde intenso entrou na cafetería como se estivesse respondendo a pergunta da Cristina. Ela girou seu corpo para atrás ao ouvir o som da campainha ao tocar, indicando a entrada de um novo cliente.
Uma voz dentro da minha cabeça me assustou um pouco quando o avistei. Usou adjetivos superlativos que com dificuldade eu diria - e isso apenas diante de uma pessoa de bastante confiança em uma festa de pijamas e uma garrafa de tequila vazia ao lado, vendo filmes românticos, criticando a protagonista e sobrevalorando a beleza daqueles atores pré-fabricados; como aquelas festas que estava acostumada a fazer antes de mudar de cidade e perder as poucas amigas verdadeiras que havia tido ao lado alguma vez - soou com aprovação e cheia de atrevimento. Esse arrebato involuntário me fez sentir como se fosse um pedreiro sedento trabalhando baixo o sol de julho.
Meus olhos também eram verdes, mas eram claros e frios. Uma herança que todas as Celinni herdaram. Os dele eram intensos, como um par de esmeraldas em um rosto que parecia estar esculpido em uma pele que revelava um bronzeado praieiro. Pela primeira vez me senti envolvida por algo assim. Era uma força que me arrastava e atraía, hipnotizante. Quando me dei conta que ele estava parado em meio à um passo e pareceu se deixar e sem dúvida alguma desfrutar do que via, porque meus olhos começavam a descer dominados pela luxúria em direção ao seu queixo, ombros, tórax, abdómem, colo... baixei totalmente a vista e virei de costas.
Sentia uma onda de calor por todo o meu corpo, uma que não fazia apenas com que minhas bochechas ardessem, havia calor em partes bastante indiscretas menos em meu estômago, que estava gelado. Em um arrebato, consciente que meu rosto era uma brasa, levantei o olhar mais uma vez, por cima do ombro esquerdo, e vi como ele dissimulava um sorriso que daria orgulho ao seu caríssimo dentista. Dentes perfeitos, brancos e alinhados. Lábios grossos, mãos grandes e dedos longos, a linha do seu pescoço, o movimento da sua respiração acelerada pelo sorriso... voltei meu rosto e encarei toda aquela parafernália. Taças, xícaras, pacotinhos de açúcar, garrafas de bebida, pratos, talheres, cafeteiras... Pelo reflexo do espelho que decorava a parede que estava diante da barra vi que ele seguia acompanhando meu rosto e seu sorriso seguia ali, com os olhos fixos em mim. Até que uma ruiva entrou em cena.
As intenções não estavam ocultas detrás daquele abraço, estavam explícitas. Ela parecia querer ter a certeza de que ele soubesse o tamanho e firmeza do seu busto, a curva da sua cintura e até mesmo seu peso, pela maneira como se lançou sobre ele. Vi também como inspirava profundamente o seu perfume quando seu nariz roçou o pescoço do jovem. Sim, Patrícia estava solteira e totalmente disposta a dar um fim nessa situação. Então uma mão roçou com delicadeza a minha por cima do balcão, pedindo atenção.

Caio seguia usando aquele penteado que eu não entendia. Por sua fotografia da carteira de motorista sabia que seu cabelo era loiro, quase dourado, grosso e liso. Só que agora mesmo suas mechas eram de raiz loira natural, logo castanho seguido por um beige meio cinza e as pontas de um loiro quase branco. O corte do seu cabelo parecia ter sido feito por uma garota de seis anos que descobre as tesouras na gaveta do banheiro da mãe e vai testar estilismo com suas Barbies. O caso era que essa criança era meu primo quase irmão, Pedro, e também sabia que desde esse dia eles tinham se tornado melhores amigos. De isso faziam mais de dois anos atrás. Resultou que a novatada fez história no campus porque Caio adotou a moda. Ele estava aqui desde o princípio da tarde conversando sobre qualquer coisa com qualquer um, esperando que o Pedro aparecesse.
-Hoje ele deve estar metido em algum lugar escuro, admirando, vigiando, desfrutando e adorando o seu "Tesouro", temendo que ele volte para o seu dono, sabendo que ele quer voltar e que seu dono o quer de volta... Sabe que eu também estou falando do Sméagol do Senhor dos Anéis, verdade? - ele havia dramatizado em sua chegada.
Caio nunca me molestava. Sim, ele era barulhento, louco pela caixa tonta - palavra que meu pai usava para definir a televisão -, falar era seu esporte preferido e era impossível mantêr-lo quieto por mais de cinco minutos mas assumo que ele era como uma raio de sol em um dia de chuva. E Deus sabia que eu odiava a chuva, e que meus dias tinham sido bastante húmidos desde meus nove anos, desde aquela visita à casa da minha amiga de infância. Então sua companhia na verdade era um presente, algo que eu atesourava muito dentro de mim. Esperava que minha amizade fosse o suficiente para mantêr-lo perto. Amigos. Ele era meu tesouro também.
-Tanto medo te deu essa parte? - Caio perguntou se levantando um pouco do banco, envolvendo com mais firmeza e ternura minha mão. Ah, claro. O livro. Uma história de loucos telefônicos.
Ele levantou minha mão esquerda, e então aquele calor repentino, desconcertante e embaraçoso que eu sentia abriu espaço pra uma dor particular, velha conhecida, que me entristecia um pouco sempre que o Caio agia assim. Sua palma da mão tocou a minha, fazendo com que nossos dedos se estirassem por completo. Por alguns segundos aquele rosto tão brincalhão se pôs sério e ele soltou um leve suspiro observando como nossas mãos se uniam. Eu sempre gostei da cor dos seus olhos, eram tão azuis que chegavam a ser levemente cinzas. Já me sentia um pouco constrangida quando ele deslizou os olhos de nossas mãos até meu rosto. Antes que escorresse minha mão, Caio a firmou por um momento mais e seu sorriso burlão voltou.
-N
ão vou contar pra ninguém que foram duas vezes seguidas, ainda que eu estivesse cansado e não desse mais conta. Eu queria dormir mas você insistiu... E você sabe que eu não resisto quando você me pede algo...
-O que? Como?
-Não pense bobagens. Mas, se você quiser pensar bobagens pode pensar. Eu estou falando daquela vez que a
gente assistiu Tarzan, a versão animada. Se eu ficar musculoso e aprender a me balançar nas lianas como ele você vai me dar uma chance? Ou basta eu conseguir o pelo do rabo de um elefante africano?
-Cala a boca, Caio. Por favor... - um ataque de risos tontos me tomaram por ver como ele sempre dava voltas e dizia as coisas no momentos mais inesperados - Se supõe que era um segredo!
-Que eu levarei à tumba. Só espero que não ter que matar nenhuma onça - ele seguia me provocando -...
Ah, o que você quer é me ver andando por aí de tanguinha!
Então minha mãe resolveu aparecer na janela da cozinha outra vez para supervisar o movimento.
-Caio! Porquê não ajuda você também? Mel volta a atender as mesas e o Caio fica aí na barra. - isso não soou como um pedido, então minha crise de risos parou imediatamente.

-Dona Lis, a senhora tá usando o mesmo método que Labão*? - ele disse quando eu lhe passei um avental limpo - Eu gosto muito da senhora e a Melissa tá muito... a senhora me entende. Mas, vinte anos sem cobrar e sendo apenas por uma filha eu não sei se...
Tive que segurar outra gargalhada enquanto anotava os pedidos dos outros clientes mais próximos e limpava algumas mesas. Caminhei até uma onde um casal estava sentado fazia pouco tempo.

O rapaz estava coberto de piercings. Não ao ponto de parecer um punk, apenas bastante atrevido. Com ar distraído formava círculos azuis de fumaça no ar, a perna direita estava estirada sobre o branco marfim de couro e a esquerda meio dobrada próxima à uma maleta que estava apoiada contra o banco com formato de guitarra, ou contrabaixo. Um colete de couro aberto de zíper prata que combinava com seu coturno negro deixava à vista uma camisa vermelho sangue, um jeans bem surrado cheio de correntes de prata amarrados com o cinturão e uma pulseira de couro negro e aros de ferro no pulso esquerdo.
A jovem à sua frente era seu oposto esteticamente, ainda que parecesse sua forma femenina biologicamente. Um ótima versão feminina. Sua jaqueta de couro marrom canela também combinava com suas botas, que subiam até a altura do joelho, ela usava uma meia calça totalmente trabalhada em outro tom de marrom e uma mini saia jeans. Uma bata branca com delicadas flores bordadas sobre ela caíam em um delicado movimento sobre seu colo. Seu cabelo era negro e curto também mas seu corte me fazia lembrar o penteado da atriz que interpreta a amiga jornalista do jovem Superman em uma série de televisão. Seu rosto era delicado e parecia desenhado com aqueles rasgos tão característicos dos asiáticos sobre uma pele muito clara, mesmo que agora ela parecesse estar furiosa por algum motivo. Folheava os classificados e sobre eles haviam numerosos anúncios riscados nervosamente de cor rosa e poucos círculos.
-Víctor. - falou com uma bela e quase infantil voz enquanto digitava números em seu celular cheio de pedrinhas brilhantes.
O jovem arrancou os olhos do vazio e sem a mínima pressa apagou o cigarro no cinzeiro branco e abriu o pequeno cardápio plastificado que tinha diante.
-Hum... Uma Heinneken e... - levantou o rosto e observou como a garota falava agora com uma voz que começava a perder a paciência no telefone - um capuccino com chantilly e calda de chocolate.
-Algo mais? - perguntei como de costume. E quando uma pessoa leva algum tempo trabalhando nisso, sente que já está preparado mentalmente para qualquer tipo de respostas que a acompanhem. Já estava automaticamente preparada para abrir um sorriso de negócios quando ele finalmente me encarou.
Esse parecia ser o dia dos garotos propaganda tomarem café. Sua sombrancelha esquerda tinha dois piercings transversais e outro mais no lábio inferior, que coincidia com uma barba mal feita crescendo sobre o desenho de um cavanhaque. Sua orelha direita continha outra quantidade numerosa de piercings de vários modelos e seu cabelo negro penteado arrepiado pra cima que encaixava perfeitamente com seu estilo era tão escuro como a cor dos seus olhos. Seu rosto também parecia ser desenhado por alguém bem talentoso e seu olhar era astuto. Victor apoiou ambos braços sobre a mesa, deitou uma mão sobre a outra e inclinou o rosto em minha direção. Sem dizer nada, estudou minha figura com um meio sorriso formado nos lábios. Dei por finalizada aquela não resposta e então ele suspirou audivelmente quando dei meia volta:
-Quem sabe...
-Você é impossível. - aquela garota de voz tão bonita falou com naturalidade quando me afastei.

domingo, 3 de enero de 2010

Hora de Mudanças!

Começamos com as mudanças! Essa semana atualização.
História um pouco mais adulta e com detalhes que antes não eram possíveis devido a jogabilidade. Espero que vocês gostem.

Bjokas e Feliz Ano Novo!!

lunes, 21 de diciembre de 2009

Notícia Importante

Oi pessoal que ainda pisa por aqui!
Primeiro de tudo, quero agradecer àqueles que acompanham esse conto. Vocês são maravilhosos! Sinceramente, nunca pensei que alguém o leeria, a não ser eu mesma, que leio de tudo, até mesmo rótulo de papel higiênico. ><
Eu fico realmente muito, muito, muito feliz por vocês se interessarem e perguntarem por mais coisas sobre a Mel e companhia...

Planejo seguir a história sim. Tenho muita coisa escrita no meu pc e desde faz bastante tempo. Mas, qualquer pessoa que escreve sabe qual é o problema disso. Você um dia vai reler, e vê quanta coisa pode ser mudada, quanta não faz sentido e quantas você passa por alto. E até mesmo se diverte e sorpreende outra vez. E isso acontece muito comigo. Sou enrolada mesmo!

A questão é, desde o começo, tive que mudar muitos pontos da história porque as limitações do jogo não me permitiam seguir, e outras porque a "censura" do lugar onde era postada era um pouquinho dura. Então, agora que a verdadeira revolução que minha vida pessoal tem passado parece ter se tranquilizado (seis mudanças de casa no mesmo ano e seis empregos - e consequentes demissões e/ou abandonos - diferentes - fora casamentos, funerais, enfermidades, dores de cotovelo, família doida etc.), o que penso sobre essa turma vai voltar a cobrar vida.

O ponto, eu falo muuito. E me estico mais ainda quando escrevo, acho que daí que minha narradora seja tão pensativa, fale pouco e seja confusa. Haha! E o que eu quero fazer é seguir escrevendo! Me divirto, incentivo minha imaginação e proporciono entretenimento pra quem gosta de ler.

Então o que eu vou fazer? Quero voltar a publicar aqui. Mas o meu pc não tá dando conta do recado com o jogo. Demora muito na jogabilidade e toma muito tempo. É claro que é prazeiroso jogar e ver os Sims "vivendo" toda a trama mas, sinceramente, acho que não tenho paciência pra tirar uma foto pra cada cena. E agora minha net é uma caca, ela vai demorar séculos pra postar cada imagem! Pensei o seguinte e deixo isso a nivel informativo, aceito opiniões: Vou limpar esse blog. Voltar à trama inicial (a essência da história não muda, algumas situações sim) e postar tudo aqui. Claro, sempre que possível vou postar uma imagem, pra incentivar nossa imaginação. Isso vai começar esse mês ainda. Trato feito?!

¡Miles de besos y felices fiestas!
Plantilla original blogspot modificada por plantillas blog